" Viver sem sonhos, é estar morto sem saber"(By myself)

Pesquisar este blog

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O SEGREDO DE AGRADAR A DEUS.



Portanto, vá, coma com prazer a sua comida e beba o seu vinho de coração
 alegre, pois Deus já se agradou do que você faz – Eclesiastes 9.7.

 José Fulano de Tal morreu ontem. Pobre homem! Consciente dos seus deveres,
 nunca atrasou no relógio de ponto. Jamais perdeu um trem. Era impensável
 que acelerasse no sinal amarelo. Correto, pagou todas as suas prestações
 na data exata. Vestiu a mesma camisa até puir o colarinho. Sempre elegeu o
 candidato que votou. Leu o jornal diariamente. Teve um enterro comedido,
 sem muita emoção, parecido como a sua existência.
 
José Fulano de Tal foi assíduo membro de uma igreja. Submeteu-se aos
 regulamentos e exigências de sua religião - seu maior desejo na vida era
 agradar a Deus. Trabalhou incansavelmente nos mutirões do bairro.
 Contribuiu com entidades filantrópicas. Em sua última jornada, os amigos,
 parentes e curiosos caminharam circunspetos pelas alamedas do cemitério..
 Despediam-se de um homem que não conseguiu viver.
 
José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta gostar, mas
 gostar mesmo, de poesia. No poema, a palavra ganha ritmo para
 sincronizar-se com o pulsar do universo. E nessa magnífica, porém
 silenciosa palpitação, ressoa a voz do Divino.
 
 José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta achar tempo
 para ouvir música. Quando melodia e rima se acasalam, nasce a sublime
 sonoridade do Paraíso. O Pai Eterno sorri quando seus filhos se aquietam
 para escutar os artesãos dos salmos, dos noturnos, das toadas, dos
 réquiens, das cantatas, das óperas, das polcas, do samba, dos hinos, dos
 recitais, dos corais, do jazz, da bossa-nova.
 
 José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta amar os
 livros. É prazeroso para Deus, ver os filhos transcendendo para mundos
 imaginários através da prosa, da narrativa. Os romances dissecam a alma
 humana, enaltecem a virtude, expõem a crueldade e quando não sofrem
 censura, descrevem a realidade crua da vida.
 José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta transformar
 cada refeição em um ágape, cada aperto de mão em uma aliança e cada abraço
 em uma declaração de amor.
 
José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta deixar-se
 conduzir por um vento desatento, rumo ao horizonte inatingível; e esperar
 por um porvir insubstancial. Já que Deus gosta de prados selvagens e de
 matas sem cercas, viver é arriscar-se. Deus sabe desenhar o arco-íris com
 as gotas do ribeiro que despenca no precipício. Portanto, só vive quem não
 teme esvaecer.
 
 José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta gostar de
 vinho, de doce de leite, de tapioca com manteiga, de filme de amor, de
 esporte, de meia hora de sono extra no feriado, de bolo de milho, de
 cafuné, de beijo, de viagem de férias com dois dias sobrando para
 descansar do descanso.
 
 José Fulano de Tal deveria ter aprendido que para viver, basta chamar Deus
 de Pai ou de Mãe.
 
 Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondin

;*

Nenhum comentário: